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Palavras de um peregrino

By Novembro 13, 2017 No Comments

Filipe Condado.

Fui desafiado a escrever um texto sobre a peregrinação a Santiago de Compostela, organizada pela Associação de Pais do Colégio.
Não será fácil, pois há coisas que saiem da esfera da palavra e esta experiência, por tudo o que significou, foi uma delas!
Começo por dizer o que é para mim ser peregrino.
É dispor-se a caminhar devagar; a partir de bolsos vazios mas inteiro, à espera de nada mas com abertura para acolher o tudo.
É partir com o desejo de crescer na sabedoria, de querer perscrutar a nossa realidade.
É sair da zona de conforto, e “viajar” para lá das habituais fronteiras.
É atirar o coração para a meta mas aceitar fazer o caminho; com respeito pelo nosso próprio ritmo; com humildade para aceitar as nossas fragilidades; com uma atitude de acolhimento fraterno pelos que caminham ao nosso lado.
É estar vigilante para não deixar que a subtileza de Deus passe ao nosso lado.
É ter a humildade de aceitar não sentir nada, pois muitas vezes os frutos aparecem fora do tempo e do lugar.

O que mais me marcou nesta peregrinação foi o sentido crescente de comunidade.
Não sei mesmo explicar isto….
Poder caminhar em silêncio ao lado de alguém;
A alegria e o gozo cada vez maior nos olhares;
A atmosfera, de um humor que só pode vir de Deus.

Num dos dias, enquanto caminhava, pensei no que seria fazer uma peregrinação diferente.
E se começasse no fim para acabar em casa?
Poderia consolidar a ideia de que a verdadeira peregrinação é a vida por inteiro e esta seria apenas mais uma etapa.
A ideia caiu por terra quando comecei a imaginar-me a caminhar ao contrário dos outros peregrinos. Na verdade, esperamos um destino comum, que nos faz cúmplices e irmãos na aventura do caminho.
Depois, com a minha mania de ser diferente, pensei num outro “formato”.
– Pronto! Caminho no mesmo sentido, mas vou deliberadamente acabar a peregrinação um quilómetro antes do destino.
Aqui, poderia exercitar a humildade de aceitar que o caminho é mais importante do que a meta e que tudo só estará consumado no prometido Banquete Celestial.
Quando chegámos a Santiago, como seria de esperar, a ideia deixou de fazer sentido.
É certo que estamos sempre a caminho, mas precisamos de conquistas; de etapas vencidas que nos projectam para a frente à procura de mais e melhor.
Já na missa, enquanto contemplava o famoso incensário a pender àquela velocidade impressionante, quase violenta, pensei no vigor e na energia com que o Espírito Santo nos envolve.
Obrigado Senhor, por me teres levado a Santiago.

 

Felipe Condado

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